sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Dos mesmos diretores de “Geração Coca-Cola”, vem ai “Geração Degustação”.

        *Aplicativo de paquera Tinder, nada mais que um catálogo de pessoas, eu diria até mesmo um                                          cardápio, onde algumas vezes a entrega é delivery, já que mostra sugestões de pessoas
                   baseadas na sua posição geográfica.

Desde pequenos somos programados para seguir um estilo de vida imposto pela sociedade, isso inclui o estímulo a encontrar um "par", formar uma família, esse padrão é transmitido pela mídia e até mesmo pelos próprios familiares, que a contar do jardim de infância, nos perguntam em tom de brincadeira: "e os namoradinhos?".
Logo, todos nós, de uma forma ou de outra, em algum momento de nossas vidas, começamos essa busca, alguém para "juntar as trouxas", mas o consumismo desenfreado da atual realidade mundial e o costume de fazer várias coisas ao mesmo tempo, o hábito de ter “multitarefas” que veio junto com a rápida evolução tecnológica, se reflete até mesmo nos relacionamentos, uma vez que para a maioria, uma pessoa por vez já não é o bastante, querem conhecer duas, três e até mesmo quatro pessoas ao mesmo tempo, como se estivessem fazendo uma degustação, provando um pouquinho de cada uma, de forma que ficam enjoados de tanta mistura e logo se dão conta que não é de casquinha em casquinha que se conquista a saciedade, percebem que há algo estranho, mas não conseguem detectar o que.
O que acontece é que conhecendo várias pessoas ao mesmo tempo, acabam não conseguindo sentir nenhuma delas. Não se tem um tempo para refletir sobre como se sentiu quando estava com determinada pessoa e o que ela poderia acrescentar. Não dá tempo de sentir saudades de ninguém já que se mata a saudades de um com o outro e assim por diante...
Em seguida se questionam: “não sei porque eu não consigo gostar de ninguém”, “não acho a pessoa certa”.
Nessa geração degustação, onde uma coca-cola por vez parece não ter mais graça ou fazer sentido, se você perguntar se não acham errado "conhecer" várias pessoas ao mesmo tempo, a resposta da grande maioria é que enquanto não assumirem um compromisso não, não acham errado. O que chega a ser curioso e engraçado também, já que a maior parte também diz não acreditar em fidelidade nos dias atuais.
Afinal o que pode e o que não pode? O que é aceitável e o que é inadequado? Não tem certo ou errado, tem a forma que você escolhe viver, tem o espaço, o espaço onde acaba você e começa o outro.
Existe a sensibilidade, o não magoar por não magoar, não porque um dia prometeu não magoar ou porque seria antiético.
Algumas coisas estão acima de rótulos, anéis, títulos, palavras e papéis... tem muito mais a ver com carácter, valores e personalidade.
Quando alguém despertar o seu interesse, se proponha a conhecê-lo de verdade, mesmo que várias pessoas lhe pareçam interessantes ao mesmo tempo, se proponha a escolher uma, é de certo que uma delas deve se sobressair, não tenha medo de escolher errado, se não der certo, você ainda pode voltar atrás e escolher uma das outras opções, se quando voltar já não estiverem mais lá, acredite é porque nunca de fato estiveram.
Sem receio, se jogue, se permita a fazer isso e se realmente o fizer terá sentimentos que jamais teria na superfície, ainda que mantivesse as três ou quatro pessoas que estava conhecendo, mesmo todas as casquinhas juntas não lhe proporcionariam nada perto disso.
Pois são coisas que só se sente a dois, são coisas que você só encontra na profundidade, onde você consegue realmente sentir a alma e a essência de alguém e isso requer essa entrega, esse risco de se jogar e mergulhar no outro. E essa sensação é única.
Falando nisso estou falando de coração e não de rótulos de compromisso.
E quando se fala de coração se fala de sinceridade, transparência, respeito, colo, abraço apertado, emoção e principalmente cautela... se fala em tomar cuidado ao tocar a alma de alguém, do tipo de cuidado que não cabe se ter com mais de uma pessoa ao mesmo tempo, porque o cuidado que se requer é tanto que nenhum ser humano seria capaz de ter por duas pessoas ao mesmo tempo, vendo que no geral já estamos tão preocupados a atenção que temos que dedicar a nós mesmos, que nesse caso encontrar espaço para mais uma pessoa já é difícil, para mais de uma então, impossível...
Sim, nós seres humanos somos egoístas por natureza, lei da sobrevivência e isso é um fato, triste porém realista.
Por isso quando rezo eu só peço, mais amor para o mundo, do tipo de amor que eu conheço, do mesmo tipo de amor que Jesus falou, do tipo que aprendi vendo meus pais, do tipo que faz com que todo o resto faça sentido.
O amor é divino como a música, por si só trás paz, plenitude e alegria, mas não importa quão linda seja uma melodia, se ouvida mais de uma ao mesmo tempo, se torna só barulho.

Como já dizia a música composta por Renato Russo para Cássia Eller…


“Não basta o compromisso, vale mais o coração...”