*Aplicativo de paquera Tinder, nada mais que um catálogo de pessoas, eu diria até mesmo um cardápio, onde algumas vezes a entrega é delivery, já que mostra
sugestões de pessoas
baseadas na sua posição geográfica.
Desde pequenos somos programados para seguir um estilo de vida imposto pela
sociedade, isso inclui o estímulo a encontrar um "par", formar uma
família, esse padrão é transmitido pela mídia e até mesmo pelos próprios familiares, que a contar do jardim de infância, nos perguntam em tom de
brincadeira: "e os namoradinhos?".
Logo, todos nós, de uma forma ou de outra, em algum momento de nossas vidas,
começamos essa busca, alguém para "juntar as trouxas", mas o
consumismo desenfreado da atual realidade mundial e o costume de fazer várias
coisas ao mesmo tempo, o hábito de ter “multitarefas” que veio junto com a rápida
evolução tecnológica, se reflete até mesmo nos relacionamentos, uma vez que para
a maioria, uma pessoa por vez já não é o bastante, querem conhecer duas, três e
até mesmo quatro pessoas ao mesmo tempo, como se estivessem fazendo uma degustação,
provando um pouquinho de cada uma, de forma que ficam enjoados de tanta mistura
e logo se dão conta que não é de casquinha em casquinha que se conquista a
saciedade, percebem que há algo estranho, mas não conseguem detectar o que.
O que
acontece é que conhecendo várias pessoas ao mesmo tempo, acabam não conseguindo
sentir nenhuma delas. Não se tem um tempo para refletir sobre como se sentiu
quando estava com determinada pessoa e o que ela poderia acrescentar. Não dá
tempo de sentir saudades de ninguém já que se mata a saudades de um com o outro
e assim por diante...
Em seguida se questionam: “não sei porque eu não consigo gostar de ninguém”, “não acho a
pessoa certa”.
Nessa geração degustação, onde uma coca-cola por vez parece não ter mais graça
ou fazer sentido, se você perguntar se não
acham errado "conhecer" várias pessoas ao mesmo tempo, a resposta da
grande maioria é que enquanto não assumirem um compromisso não, não acham
errado. O que chega a ser curioso e engraçado também, já que a maior parte
também diz não acreditar em fidelidade nos dias atuais.
Afinal
o que pode e o que não pode? O que é aceitável e o que é inadequado? Não tem
certo ou errado, tem a forma que você escolhe viver, tem o espaço, o espaço onde acaba você e começa o outro.
Existe
a sensibilidade, o não magoar por não magoar, não porque um dia prometeu não
magoar ou porque seria antiético.
Algumas
coisas estão acima de rótulos, anéis, títulos, palavras e papéis... tem muito mais a ver com carácter, valores e personalidade.
Quando
alguém despertar o seu interesse, se proponha a conhecê-lo de verdade, mesmo
que várias pessoas lhe pareçam interessantes ao mesmo tempo, se proponha a
escolher uma, é de certo que uma delas deve se sobressair, não tenha medo de
escolher errado, se não der certo, você ainda pode voltar atrás e escolher uma
das outras opções, se quando voltar já não estiverem mais lá, acredite é porque
nunca de fato estiveram.
Sem
receio, se jogue, se permita a fazer isso e se realmente o fizer terá
sentimentos que jamais teria na superfície, ainda que mantivesse as três ou
quatro pessoas que estava conhecendo, mesmo todas as casquinhas juntas não lhe
proporcionariam nada perto disso.
Pois
são coisas que só se sente a dois, são coisas que você só encontra na
profundidade, onde você consegue realmente sentir a alma e a essência de alguém
e isso requer essa entrega, esse risco de se jogar e mergulhar no outro. E essa
sensação é única.
Falando nisso estou falando de coração e não de rótulos de compromisso.
E quando se fala de coração se fala de sinceridade, transparência, respeito,
colo, abraço apertado, emoção e principalmente cautela... se fala em tomar
cuidado ao tocar a alma de alguém, do tipo de cuidado que não cabe se ter com
mais de uma pessoa ao mesmo tempo, porque o cuidado que se requer é tanto que
nenhum ser humano seria capaz de ter por duas pessoas ao mesmo tempo, vendo que
no geral já estamos tão preocupados a atenção que temos que dedicar a nós
mesmos, que nesse caso encontrar espaço para mais uma pessoa já é difícil, para
mais de uma então, impossível...
Sim, nós
seres humanos somos egoístas por natureza, lei da sobrevivência e isso é um
fato, triste porém realista.
Por isso quando rezo eu só peço, mais amor para o mundo, do tipo de amor que eu
conheço, do mesmo tipo de amor que Jesus falou, do tipo que aprendi vendo meus
pais, do tipo que faz com que todo o resto faça sentido.
O amor é divino como a música, por si só trás paz, plenitude e alegria, mas não
importa quão linda seja uma melodia, se ouvida mais de uma ao mesmo tempo, se
torna só barulho.
Como
já dizia a música composta por Renato Russo para Cássia Eller…
“Não
basta o compromisso, vale mais o coração...”